Era véspera do jantar de turma e April decide dar uma voltinha pelas lojas para ver se arranjava algo bonito para vestir no dia seguinte no jantar de turma.
Há já vários anos que não via os colegas e queria estar bem e sentir-se bem acima de tudo, nem que com uma roupinha nova fosse essa ajuda que precisava.
É ainda Inverno estava frio chovia há 3 dias seguidos, não é coisa que deixe alguém animado ou inspirado para compras, mas April não desiste até nem se saiu nada mal e comprou um vestidinho que lhe assentou na perfeição, como tivesse sido desenhado especialmente para si, e para as suas curvas, o azul-marinho fazia um bonito contraste com os seus cabelos ruivos e as suas sardas.
Era dia do jantar, April tinha combinado encontrar-se com a Amy, uma colega de turma com quem sempre manteve contacto assíduo tornando-se assim boas amigas e bastante chegadas.
Eram 20pm. e Amy aguardava pela April que tão ansiosa que estava por este jantar, acabou por se atrasar um pouco.
Amy recebeu-a de sorriso na cara e os seus olhos azulados esbugalhados.
Um abracinho forte une as duas amigas por segundos:
«Estás atrasada rapariga!»
«Eu sei desculpa, perdi-me por entre a tarde! hahaha»
«Tonta! Ena toda jeitosa, onde vais tu assim, toda arranjada, é só um jantar!»
«Sabes como sou, gosto de estar bem em qualquer ocasião.»
«Eu sei, eu sei, vá anda lá. Já lá devem estar quase todos.»
As duas põem-se ao caminho em amena cavaqueira e falam das trivialidades da semana, e do frio que as deprimia há dias.
Não havia maneira do sol vir e ficar de vez…andava indeciso demais para o gosto de Amy e April.
Ao chegarem ao restaurante já alguns dos colegas estavam cá fora, a aguardar quem faltava e aproveitavam para fumar aquele ultimo cigarrinho antes de jantarem e porem a conversa em dia.
April cumprimentou todos e ao mesmo tempo disfarçadamente olhava em seu redor pois ainda não tinha visto Jack, que tinha dito ter muita vontade em ir e prometeu a comparência, mas nem sinal dele.
O resto da turma foi pouco a pouco chegando mas nada de Jack…
Eis que Amy vê um carro passar, e grita:
«Olha olha, o John também veio!»
April vira-se e só já consegue ver a traseira do carro afastar-se e não consegue identificar os passageiros.
Minutos depois eis que John cumprimenta April, não se viam há anos e John tinha sido pai recentemente mostrava-lhe babadíssimo a foto do rebento no telemóvel…
April sente alguém agarra-la e puxa-la pelo braço, era Jack que lhe acabara de pregar-lhe dois beijos.
«Tas boa April?» sussurra-lhe ao ouvido deixando-a gaga e quase sem reacção…
«Sim, estou bem e tu, como vais? Por aqui? Andas perdido.»
«Vim ver a malta, recordar bons tempos.»
Afasta-se piscando-lhe o olho. Cumprimentando o resto dos colegas.
«E que olho!» pensava April, que sempre tivera uma valente “queda” por Jack, e o ponto fraco, eram os seus olhos verdes que iluminavam qualquer sala e a deixavam encantada e estática sem poder de reacção.
Eles que tinham sido namorados por alguns bons meses durante o tempo de aulas, embora ninguém oficialmente soubesse, desconfiavam apenas, mas não passou de desconfiança dos colegas, mas a verdade só eles sabiam.
Eles e os amigos mais chegados na altura, a Amy claro está e o John creio que também sabia.
A verdade é que April se sentiu encantada, e estática ao rever o ex-namorado… por momentos sentiu borboletas no estômago por tê-lo visto. Ou terá sido já a fome a dar sinal?
Talvez fosse a paixoneta adormecida a deixasse assim, mas a verdade é que Jack estava igual e o tempo parecia não ter passado por ele.
Muitos anos se passaram sem contacto, nunca mais se tinham visto, April decide ignorar o “aparato” sentimental e não dar muita importância.
Amy chega-se junto da amiga e questiona-a:
«Estás bem? Pareces nervosa! Tas pálida hehehe aposto que sei o motivo!»
«shiuuuuuuuu tas louca? Controla-te por favor. Não se passa nada, estou bem é só frio. Já entravamos até porque estou com fome!»
«Pois tá bem! Heheeh Vá anda lá que também já mordia qualquer coisinha!»
É sempre aquela confusão quando se decide quem fica junto a quem e onde e em que ponta da mesa…
April vai entrando com alguns dos colegas com quem mais se dava na altura, sentam-se ao fundo da sala nas últimas mesas, deixando para trás Amy que ficou a fumar com os restantes.
Ao seu lado senta-se Jack, que lhe sorri, e a deixa gaga de novo.
Cheirava bem como sempre e sorriu-lhe.
April atrapalhada mal percebe se o sorriso foi com os lábios se como os olhos…
No meio da confusão ninguém se apercebe, além de Amy que lhe pisca o olho de longe, sendo retribuída por um deitar fora de língua em protesto.
Durante as entradas Jack vai questionando sobre a vida de April…ao que ela lhe vai simpaticamente e calmamente respondendo, pensando sempre antes de dizer qualquer coisa, para que não fosse apanhada num estado de “tolice pegada” pelas borboletas que voavam no seu estômago, apesar de o estar a “forrar” com as entradas e um copo de vinho, denunciando assim aquele sentimento adormecido, mas que naquele momento parecia bem acordado…demais até para seu gosto e confusão.
Jack, insiste em querer saber e mostra-se interessado pela vida de April…Perguntas normais de quem não se vê há muito, muito tempo…
Entre uma dentada e outra no pão torrado cm paté, Jack sussurra-lhe ao ouvido, pondo-lhe uma mão na perna por baixo da mesa:
«Gostei de te ver, tive saudades tuas miúda, saudades nossas!»
Lançando lhe ao mesmo tempo aquele olhar típico maroto acompanhado da risada maquiavélica mas em tom baixinho…
April engasga-se, derrete-se e cora, dá um gole no copo de vinho, olha para ele e sorri dizendo apenas:
«Foi muito giro sim…muito mesmo!»
Mil momentos que viveram juntos abalroaram-lhe o pensamento, deixando-a a sorrir, enquanto barrava mais uma tosta de pão…
Assim que chega o prato, um delicioso arroz de pato, fumegante, com belas rodelas de chouriço que pareciam gritar por todos, um cheirinho a comidinha acabada de sair do forno.
Jack conversava com os colegas, quando April lhe pergunta:
«E agora tu! Conta-me tudo! Que tens feito? Novidades?»
«Nada de especial, trabalho no sítio do costume, continuo a morar na mesma zona…
Ahhh espera, estou noivo, vou casar em Junho!»
April, nem queria acreditar no que acabara de ouvir e pergunta se Jack está numa das suas brincadeiras (de mau gosto, para os seus ouvidos!)
Foi quando todos o felicitam e lhe dão palmadinhas nas costas felicitando-o pela boa notícia, não deixando assim responder se seria ou não brincadeira…e não era.
Era sério!
April não consegue ficar feliz, ou entusiasmada, mas mesmo assim felicita-o tentando mostrar-se efusiva, fingindo entusiasmo que não sentia, e feliz pelo “amigo” para que ninguém e nem o próprio Jack percebesse a desilusão que acabara de receber.
April sentiu se por momentos, traída, magoada, decepcionada, triste, desapontada e de esperanças totalmente mortas, seu mundo caiu lhe ali mesmo, aos seus pés jazia uma esperança.
Era o fim, não havia mais nada que pudesse dizer ou fazer para trazer de volta algo que estava adormecido…
Sabendo que a esperança é sempre a ultima a morrer, sabia que não havia volta a dar, e nem mesmo o vestido novo lhe deu boa sorte neste jantar que ela tanto ansiou para ter.
«Casar???!!! Porquê??»
Questionava-se interiormente, enquanto bebericava do seu copo o seu vinho que agora lhe dera outro gosto…
Incrédula, desvia o assunto conversando com os colegas do lado…tentando não pensar no que ouvira, e não dando a mínima importância às borboletas que insistiam não querer abalar, e deixa-la sossegar.
Suas faces começaram a ficar rosadas, sentia-a um calor estranho que lhe foi subido pelo corpo e que lhe deixaram as orelhas a ferver.
Achou que a sua cabeça ia rebentar.
Mas como mulher não denunciou os seus sentimentos, não baixou a auto estima e manteve a postura.
Eis que Jack olha-a nos olhos, sorri e diz em voz alta para a mesa toda poder participar e ouvir:
«Mas há mais novidades, não me fico por aqui…!»